Se há assunto que me tira do sério é a desproteção/falta de cuidado com as crianças, principalmente na primeira infância, até cerca dos 6 anos.
Porquê as mais pequenas? Porque são as que estão biologicamente mais desprotegidas. As crianças mais velhas, adolescentes e adultos são afetados também por tudo o que se está a passar neste momento? SIM. Claro. De forma semelhante às crianças mais pequenas mas, à partida, quanto mais velhos, de mais ferramentas dispõem para lidar com as dificuldades da vida (logo escrevo outro texto sobre isto).
O nosso cérebro desenvolve-se em primeiro lugar para garantir a sobrevivência através do funcionamento dos órgãos vitais. Quando está assegurada passamos ao segundo nível de funcionamento cerebral – relação, vinculação e desenvolvimento emocional.
Leste com atenção? Relação, vinculação e desenvolvimento emocional!
Como é que isto se faz? Através de relações e conexões emocionais, com relacionamentos SINTONIZADOS e SENSÍVEIS.
Garantida a sobrevivência física, são as respostas emocionais adequadas que vão organizando o significado do mundo.
Mais, já aconteceu na nossa história (e seguramente continua a acontecer em alguns países e provavelmente por cá também), que a falta de conexão emocional leva à apatia, dificuldades de adaptação ao meio, alterações emocionais e comportamentais graves, recusa alimentar e até já mesmo a morte física (posso falar da síndrome de hospitalismo noutro texto, diz-me se queres nos comentários).
Então, vamos lá ver se nos entendemos. O combate ao Coronavírus NÃO PODE suprimir a expressão dos afetos… entre adultos e crianças e das crianças entre si.
Suprimir a expressão de afetos é retirar a possibilidade da criança conseguir organizar o mundo, aprender, crescer de forma saudável e equilibrada. É ativar constantemente os alarmes mais primitivos do nosso corpo e deixar marcas de trauma gravadas bem profundamente.
Que geração vai ser esta se permitirmos que as nossas crianças cresçam nestes moldes?
Temos medo? SIM. Então, vamos trabalhar o nosso medo.
Não estamos a conseguir sozinhos? PEDIMOS AJUDA!
Temos que ser responsáveis e adequar os nossos comportamentos a estes tempos de pandemia? SIM. Mas vamos usar a sensatez. Nem 8, nem 80.
Quando os medos dos adultos começam a condicionar as crianças, elas ficam encurraladas. Quem dá alternativas melhores às crianças, são os adultos que lhe estão mais próximos. E é assim que lhes é permitido ter um desenvolvimento mais harmonioso e saudável.
Há risco de contrairmos o vírus? SIM. Vamos pôr o risco dentro do intervalo possível entre diminuí-lo e conseguir estabelecer relações afetuosas sintonizadas e sensíveis.
E por onde podemos começar? A consciência é sempre o melhor primeiro passo. A seguir vem o trabalho connosco próprios. Posso também propor uma conversa, dentro do meu núcleo familiar já que já comecei a trabalhar o assunto. Quem sabe o que precisamos é mesmo de falar. Se não consigo, peço ajuda.
Então vamos amparar a geração dos nossos filhos?
Catia costa says
A minha filha tem dois anos. Continuamos a incentivar/dar afectos e confirmamos que na creche também é assim. Muitos abraços, brincadeiras, colo e liberdade. É essencial para o desenvolvimento dela. Claro que temos medo mas acima de tudo queremos que ela seja feliz. Obrigada por nos relembrares o que às vezes nos podemos esquecer nesta loucura que estamos a viver!
Eugénia says
Grata Cátia! Fico mesmo feliz que quer vocês, quer a creche ponham os afetos como uma prioridade. Beijinhos