Uma das magias da Psicoterapia na Natureza é fazer coincidir o trabalho psicoterapêutico com o que acontece naturalmente no ambiente à nossa volta, potenciando ainda mais a capacidade transformadora da psicoterapia num “setting” poderoso, estimulante e acolhedor.
Como nós somos natureza, os nossos ritmos biológicos mais saudáveis regem-se pelo ritmo da natureza. Assim, se procuramos uma vida mais equilibrada teremos sempre que respeitar estes ritmos. Eles acontecem por alguma razão. Por exemplo o sono: se olharmos a um nível mais fisiológico, biológico, acontece quando há mais produção de melatonina no nosso organismo. A produção aumenta quando a luz do dia começa a diminuir e a escuridão da noite chega. Por isso, para termos um sono mais saudável o melhor é respeitar os ciclos de luz – dia/noite.
O mesmo acontece connosco e as estações do ano: os ciclos influenciam-nos. Está em nós a possibilidade de harmonizar com os convites que as estações do ano nos fazem. Estamos em outubro, começou o Outono. O que acontece nesta estação?! As árvores começam a perder as folhas. É altura de soltar tudo o que já não serve para podermos enfrentar o Inverno da melhor forma.
Foi isso que estivemos a fazer no fim de semana passado nas sessões de Psicoterapia na Natureza – Descobrindo Trilhos para a Cura. Todo o trabalho psicoterapêutico foi focado no tema Outono – Soltar as Folhas que já não me servem.
Quando se trabalha individualmente e em grupo durante cerca de 5 horas sobre o mesmo tema, uma transformação profunda começa a acontecer. Ao proporcionar uma diminuição do nosso ritmo normal, ao entrarmos em contacto com o ambiente natural à nossa volta, para conseguirmos despertar a nossa sabedoria universal interna, podemos descobrir neste trilho coisas sobre nós que estavam mais escondidas, enterradas, inconscientes cá dentro.
Foi isso que aconteceu no fim de semana.
Eu faço dois grupos, um ao sábado e outro ao domingo. O tema é o mesmo e os convites dos exercícios também, mas esta é uma psicoterapia feita à medida, adaptada a cada grupo e é interessante e lindo assistir às diferenças.
Estou sempre a ser surpreendida. O grupo de sábado conseguiu encontrar facilmente o que queria soltar. As metáforas surgiram com uma força espantosa. Já no domingo, ao contrário do que eu esperava (porque os participantes entregam-se sempre com muito entusiasmo e dedicação), houve muito mais resistência. Na verdade, entrar em contacto com o que queremos/precisamos soltar, dói. E de forma automática e inconsciente nós tendemos a querer escapar da dor. Mas a verdade é que enquanto estivermos a escapar dela, não conseguimos perceber o que está mal, limpar, tratar as nossas feridas, para que elas possam finalmente cicatrizar. Quando o confronto com a dor acontece, muitas vezes também acontece a desregulação emocional, sob várias formas – tristeza, angústia, ansiedade, zanga.
A nossa tarefa –da natureza, a minha e das pessoas que pertencem ao grupo-, é poder acolher estas emoções, ajudar a que elas possam ser desbloqueadas, para que comecem a fluir e possam dar origem a um processo de transformação, mudança e cura.
Os trilhos da natureza fazem maravilhas. Começamos de forma suave a entrar em contacto com o fora e com o dentro de nós, aumentamos a intensidade deste contacto para ver mais longe o que precisamos transformar, o que custa e dói, desregula. Mas, à medida que percorremos o trilho, vamos transformando e o difícil fica mais fácil. O impossível começa a encontrar um caminho melhor, a transformação acontece.
Soltamos pedras, paus, novelos, isqueiros (lixo humano), pinhas, terra, folhas. Mas, na realidade, soltamos desilusão, não merecimento, exigência, perfeição, rejeição, opiniões externas, ciúme, raiva, dor e tudo mais que esteja a magoar cá dentro. Tudo mais que nos bloqueia, tudo mais que nos impede de viver uma vida melhor, tudo mais que impede a nossa felicidade e saúde plena.
A natureza, eu, o grupo, todos ajudamos, amparamos, cuidamos amorosamente para que o processo seja o mais suave possível.
Muito trabalho psicoterapêutico foi feito – “meses de psicoterapia em 4 ou 5 horas”, diz a Susana.
Este é um trabalho que se iniciou nesses dias. Que continua até à próxima sessão, durante todo o Outono ou pelo tempo que necessário for, até que possa estar transformado e a cura aconteça.
Fico sempre curiosa para perceber como a transformação está a caminhar. Fora das sessões continuamos todos aqui, disponíveis para ajudar no processo. Ninguém percorre estes caminhos sozinho, estamos sempre acompanhados e isso facilita todo o processo. Estamos juntos no caminhar dos trilhos interiores, como juntos estivemos nos trilhos do mato e ao pé do mar…
natália barbosa says
Pois é … é isto tudo e muito mais!!
Escrever sobre sentimentos, emoções de factos vividos ou antecipados é deveras dificil !! e a forma como está escrita neste blog parece tão fácil!
Procurar a cura é tentar superar e sem ajuda ainda é mais dificil e é aqui que entra toda a beleza e sabedoria desta terapia!!
e isso deve-se a intervenção da Drª Eugénia Amaro
Grata
Eugénia says
Grata Natália! Não é nada fácil escrever sobre vivências experienciais. Mas espero que aquilo que vivemos juntos possa ajudar outros nos seus caminhos. Beijinhos 😍😘